quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

“….Cada palavra tem o dever de não ser nenhuma coisa.” Mia Couto


“Parole, parole, parole…” lembro-me da canção. Palavras que largamos sem sentido, que enchem o espaço e desaparecem segundos depois. Palavras que não exprimem a verdade, porque não queremos que ninguém diga a verdade. Recordo a peça “Huis Clos”de Sartre que vi em Paris há muitos, muitos anos, agora quase tudo foi há muitos, muitos anos. Três, seriam mais? Três personagens fechados num quarto, dizendo mentiras que queriam que fossem verdades e quando realmente a verdade apareceu percebem que estão no inferno.
O inferno da verdade, das palavras que não escondem nada, que estão ali ameaçadoras, acusadoras, não há benevolência na verdade. “Nua e crua” por alguma razão a verdade amedronta, fugimos dela porque nos sentimos incapazes de viver só com ela. A mentira é aquilo que muitas vezes queremos ouvir, aquilo que nos permite continuar, afastamos a verdade com um gesto brusco e deixamos que a mentira nos possua.

Palavras que esquecemos, que não têm cheiro nem sabor, ou têm? Palavras que não são palpáveis, ou são? Agarramos a palavra, seguramos com força e quando abrimos a mão não está lá nada, nada. Palavras que exprimem emoções, raiva e impotência, palavras carinhosas que nos acariciam, que tocam o nosso corpo e agitam a nossa consciência …e depois impiedosamente nos deixam vazios. 

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