segunda-feira, 6 de novembro de 2017

"Assim que começou a desmanchar a mala, percebeu que se enganara no destino”


Prepara a viagem com todo o cuidado. Tudo tinha que dar certo, seria um encontro definitivo, nada seria como dantes.
Sabia que as palavras podiam ser escorregadias e que se prestavam a interpretações às vezes perigosas.
“É um campo minado”, pensou, “se dou um passo errado, todos os sonhos, todas as esperanças, tudo desparece num segundo”.
Ele escolhera o local, a hora, o dia. Ela limitou-se a dizer sim. A única coisa que lhe enchia o pensamento era imaginar o encontro, o abraço apertado, as lágrimas de comoção.
Chegou sozinha, tinham combinado assim, o voo fora longo e cansativo. O hotel era longe, num lugar perdido, feio e triste. Olhou à sua volta, as paredes cinzentas, a cama estreita, a janela que não se abria…começou a desmanchar a mala e naquele momento percebeu que se enganara no destino.
Deveria ter sido capaz de ler os sinais, de perceber que tudo não passava de uma armadilha, uma forma cínica, cruel de lhe dizer que tudo acabara e que nada mais havia a esperar.

Os soluços rebentaram como uma tempestade.

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