Bom,vamos
lá para trás, só quarenta e três anos:
Lembro a nossa rotina, o duche, o pequeno-almoço
tomado à pressa, a rádio ligada…nessa manhã não ouvimos os 5 minutos de
ginástica do capitão, devia estar doente pensei, o homem nunca falhava, mas a
hora não mudara, faltavam cinco minutos para as oito e a Teresa tinha que estar
no liceu às oito e meia.
- Teresinha
vamos, despache-se está na hora.
- Oh mãe
vou já, estou a fechar a pasta.
Descemos a escada a correr, cinco andares sem
elevador, só possíveis quarenta e três anos atrás. Enfiámos-nos no carro, o
célebre Renault amarelo que toda a gente reconhecia. Pouco transito nessa manhã,
muito pouco mesmo.
Chegámos ao Maria Amália mais que a tempo. Demos
a volta ao edifício e com espanto vimos vários soldados em cima do muro…não
percebi nada, e mais à frente mais soldados no outro muro. Parei o carro:
- Oh Teresinha
vá lá ver o que se passa.
Lá sai a
minha filha toda lépida, e volta a correr para o carro.
- Então o
que foi?
- Oh mãe um
golpe de estado, uma operação militar!
- Um golpe
de estado? Ah vamos ver!
E lá fomos as duas no veículo amarelo gema, pelas
ruas de Lisboa… mais à frente não se podia passar, voltámos, chegámos à
Assembleia, ligámos a telefonia e ouvimos:
“Grândola
vila morena…”
Foi há
quarente e três anos atrás!
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