Ali estava
a nuvem negra, imensa, olhando para mim, perscrutando o meu íntimo,
ameaçando-me.
O vento recolhera-se por trás das árvores
seculares. Estava cansado, o vento, já não tinha forças para assustar ninguém. Cansara-se
de afogar barcos, revolver o mar, matar árvores frágeis que se dobravam à sua
passagem. O vento queria paz, queria não ter voz e que tudo se remetesse ao
silêncio mesmo correndo o risco de ser ensurdecedor. O silêncio amordaçado,
pronto a rebentar numa tempestade desfeita onde os relâmpagos pareciam
fogo-de-artifício.
Senti-me esmagada pela ameaça daquela nuvem intimidadora lembrando-me que tudo tinha um fim e que
a linha do horizonte não era uma miragem, mas sim uma fronteira pela qual eu
passaria transformada numa nuvem branca atravessada pelos raios do sol que
mergulhava no mar.
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