segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Ao escritor António Lobo Antunes



Afasto-me um pouco, paro de ler, pouso o livro / a revista sobre a mesa. Sinto-me emocionada de uma forma profunda e indelével, talvez venha a esquecer o texto mas não o que ele causou em mim. Não há uma palavra a mais, não há uma palavra a menos. Não há excessos porque não é preciso, um equilíbrio total entre as palavras e as emoções, como uma peça musical, uma sonata não sei.
Só sei que se estivesse no teatro me teria levantado e batido palmas até à exaustão e gritaria bravo, bravo, e num concerto não arredaria pé sem que houvesse um extra ou mesmo dois… aqui sou eu e a página escrita, sós, um exercício solitário que não chega ao escritor que de certa forma não tem direito a palmas nem a bravos.
Há meses que António Lobo Antunes me deslumbra, me comove, me emociona, me faz sorrir, com as suas crónicas, quase confidências, onde se despede, como se pudesse ser ouvido, dos muitos que amou e que já partiram. É como se estivesse a dizer, enquanto estou aqui, enquanto houver quem me leia, quero que saibam como vos amei, mesmo quando os odiava, mesmo quando estava zangado, como sou aquilo que vocês foram e que me impregnou, numa espécie de osmose indetectável.
Quem o conhece sabe que tem mau feitio, que não suporta a mediocridade, que pode ser desagradável … mas na realidade que importância tem isso quando alguém escreve como António Lobo Antunes? O que ficará será a sua escrita, serão as suas sonatas em forma de palavras ou talvez notas musicais que se transformaram em letras, porque existe um ritmo, um equilíbrio, uma sonoridade que nos permite ouvir atentos o que está a tocar.

Obrigada e a palavra é tão limitativa, mas não conheço outra, obrigada.

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