Meus Queridos
Talvez
estranhem esta minha carta, mas vocês eram muito pequenos para
perceberem o maior presente que a vossa mãe vos deu.
Agora que a
ausência já não é sentida como intolerável, podemos fazer as pazes com a dor e
lembrar com alegria o amor da vossa mãe, e é tão bom, tão reconfortante saber que fomos amados de verdade!
A doença era fatal, ninguém quis acreditar quando soubemoso diagnóstico. Pensámos
sempre que a medicina seria capaz de a salvar.
Não foi
assim e ela sabia-o, e quando lhe pedi para desistir da viagem que tinha
prometido fazer com vocês, disse-me: “Todos morremos, não é? Uns mais cedo,
outros mais tarde, eu vou com eles é a última coisa que lhes posso dar.”
Foi e
ofereceu-vos o sorriso, a companhia, a ternura, como se tudo estivesse bem,
como se as noites não fossem dolorosas, como se nada fosse mudar.
Passaram a
última semana juntos, passearam, brincaram, riram. Voltaram felizes e ela
sorria também. Tinha sido capaz, aguentara a dor sem que ninguém percebesse,
sabendo e sentindo
que o fim estava próximo.
Poucos dias depois já não estava mais connosco.
Foi um
presente maravilhoso, que só uma mãe extraordinária vos poderia dar e por essa
razão escrevi esta carta para que não se apagasse nunca da vossa memória
a lembrança dessa dádiva sem preço que a vossa mãe vos ofereceu.
Avó
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