segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Lágrimas



Raquel deixa o carro no estacionamento e dirige-se com passos firmes para o consultório. Depois de umas semanas de dor e vazio, readquiriu alguma calma interior. A morte da mãe com tinha uma relação profunda e de grande cumplicidade deixara-a profundamente ferida e abalada. Sabia que esse dia chegaria, mas nunca se está preparado, pensou.
A vida profissional e o contacto com os pacientes atenuava a ausência daquela mulher extraordinária que não estava mais ali para a apoiar.
Encontra a sua agenda aberta em cima da secretária. Não conhece o primeiro paciente e está curiosa. Bernardo Lemos chega à hora marcada. Senta-se no cadeirão à sua frente e olha-a fixamente; depois diz-lhe: “perdi um filho num desastre de automóvel e sinto-me a soçobrar.” Raquel sente os olhos cheios de lágrimas perante a confissão brutal e o rosto marcado pelo sofrimento. Sabe que tem que medir as palavras.

Nessa noite o rosto de Bernardo não lhe sai da cabeça. É invadida por um imenso sentimento de ternura. 

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