Raquel deixa o carro no estacionamento e
dirige-se com passos firmes para o consultório. Depois de umas semanas de dor e
vazio, readquiriu alguma calma interior. A morte da mãe com tinha uma relação profunda
e de grande cumplicidade deixara-a profundamente ferida e abalada. Sabia que
esse dia chegaria, mas nunca se está preparado, pensou.
A vida profissional e o contacto com os pacientes
atenuava a ausência daquela mulher extraordinária que não estava mais ali para
a apoiar.
Encontra a sua agenda aberta em cima da
secretária. Não conhece o primeiro paciente e está curiosa. Bernardo Lemos chega
à hora marcada. Senta-se no cadeirão à sua frente e olha-a fixamente; depois
diz-lhe: “perdi um filho num desastre de automóvel e sinto-me a soçobrar.”
Raquel sente os olhos cheios de lágrimas perante a confissão brutal e o rosto
marcado pelo sofrimento. Sabe que tem que medir as palavras.
Nessa noite o rosto de Bernardo não lhe sai da
cabeça. É invadida por um imenso sentimento de ternura.
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