“Sonhei
esta noite ou melhor tive um pesadelo; não sei onde as pessoas foram inventar
que sonhar é bom”, pensou Madalena quando se levantou.
Era sempre assim, o sono tinha a particularidade
de lhe trazer de volta todas as suas angústias e ansiedades. Às vezes eram
pequenas, grandes coisas, como ontem…”a meio do caminho para o aeroporto,
verifica que não tem o passaporte, deixou-o em casa… tem que voltar, tem que
voltar, já não tem tempo, ou será que pode, o passaporte, sem ele não pode
viajar…” acorda sobressaltada.
Será que há
maneiras de acabar com os pesadelos? Porque é que eles a perseguem?
O Afonso
diz-lhe muitas vezes que sonha com ela, Madalena não acredita, no fundo até nem
quer, não sabe o que o sonho pode trazer, como se pode transformar.
Toma um
duche rápido e verifica se está tudo em ordem: sim está lá o bilhete de avião,
o passaporte, o envelope com os dólares, a reserva do hotel e o livro para ler
enquanto espera. Tem tempo para chegar ao aeroporto. Sem um livro Madalena
sente-se inquieta, ansiosa, mas no momento em que se embrenha na leitura, o
mundo pára à sua volta.
A viagem é
longa, nove horas custam a passar, parecem não ter fim. Quando se cansa de ler,
fecha os olhos e sonha acordada. Aí sim é dona dos seus sonhos, faz deles o que
quer, pinta-os com as suas cores preferidas.
Afonso
espera-a no aeroporto, um sorriso imenso, um abraço terno, um beijo longo,
prolongado, quente, e as palavras ”que saudades, tantas, tantas saudades”.
Afinal
talvez fossem verdadeiros os sonhos de Afonso!
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