Não
queria lembrar-se daquele Verão. Talvez o Verão mais quente da sua vida. A água
do mar gelada. Uma contradição, uma espécie de castigo, de punição. A noite
negra, sufocante, ameaçadora. Impossível dormir mesmo com as janelas abertas de
par em par.
Um
Verão vermelho, abrasador. Havia no ar uma ameaça, algo que podia acontecer mas
que pressentia que não seria bom.
Os
arrozais verdes lembrando um relvado, eram uma esperança falsa de uma frescura
que não chegava.
Sentou-se
na cadeira de balouço, não abrira o livro, não sentia coragem e no entanto era
o seu livro, a sua história, a sua vida.
Escrevera-o
a custo, vasculhando no armário do passado e encontrara memórias de tristezas
esquecidas, de amores vividos e risos perdidos. Nada voltaria, o passado não
volta, temo-lo mas não o conseguimos agarrar. O passado é forte, poderoso e
frágil ao mesmo tempo.-
A
cadeira balançava suavemente e os arrozais agitaram-se com a brisa que surgia
vinho mar.
Adormeceu.
HB
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