terça-feira, 15 de outubro de 2013

Verão Vermelho


Não queria lembrar-se daquele Verão. Talvez o Verão mais quente da sua vida. A água do mar gelada. Uma contradição, uma espécie de castigo, de punição. A noite negra, sufocante, ameaçadora. Impossível dormir mesmo com as janelas abertas de par em par.
Um Verão vermelho, abrasador. Havia no ar uma ameaça, algo que podia acontecer mas que pressentia que não seria bom.
Os arrozais verdes lembrando um relvado, eram uma esperança falsa de uma frescura que não chegava.
Sentou-se na cadeira de balouço, não abrira o livro, não sentia coragem e no entanto era o seu livro, a sua história, a sua vida.
Escrevera-o a custo, vasculhando no armário do passado e encontrara memórias de tristezas esquecidas, de amores vividos e risos perdidos. Nada voltaria, o passado não volta, temo-lo mas não o conseguimos agarrar. O passado é forte, poderoso e frágil ao mesmo tempo.-
A cadeira balançava suavemente e os arrozais agitaram-se com a brisa que surgia vinho mar.

Adormeceu.

HB

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