terça-feira, 29 de outubro de 2013

Uma aldeia isolada


Começava a ser difícil subir a encosta até à pequena casa onde vivia Fernão. Desde a morte da mulher que a tristeza o invadira e era a custo que se deslocava até à aldeia para adquirir o indispensável para sobreviver.
Às vezes o Fiel acompanhava-o, mas começava a estar velho e frágil, preferia ficar deitado ao pé da lareira sobretudo agora que os dias estavam mais frios e as noites geladas.
Fernão puxou o capote para se proteger do vento agreste. Faltavam ainda uns cem metros, os mais difíceis, o caminho era ingreme e irregular.
Vivera sempre naquele lugar perdido, mas gostava da paisagem dura e impiedosa, do barulho das águias e da água que caía sobre as rochas. Francisca dera-lhe dois filhos que partiram rumo às Américas. Nunca mais tinham voltado. Mas Francisca era a luz da sua vida e tudo era suportável quando reencontrava o seu sorriso e quando na intimidade do pequeno quarto soltava os magníficos cabelos loiros e se abraçavam ternamente.
Por Francisca mantinha-se vivo, sabia que ela não lhe perdoaria qualquer acto tresloucado. Quando a voltasse a encontrar queria ter a certeza de estar em paz.
Abriu a porta da casa. Lá estava o Fiel enroscado que apenas abanou o rabo. Pousou o saco sobre a mesa de madeira, tirou as botas e deixou-se cair na cadeira. A madeira ainda ardia e do forno do pão chegou-lhe o cheiro quente e pacificador.
“Francisca, Francisca deixa-me partir…não sou nada sem ti e ninguém precisa de mim.”
Ouviu bater à porta; não, não era possível ninguém o visitava. Era um bater leve mas insistente. Abriu, um garoto de caracóis negros pediu-lhe para entrar.
“Tenho frio, disse-lhe, e senti o cheiro do pão”.



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