As palavras tinham-se perdido, quase já
não se lembrava dos sons. A vida levara-lhe tudo: a casa, a mulher, os filhos.
Perdido na sua imensa solidão, sem ter coragem para acabar com o sofrimento, sobrevivia
com o que era distribuído no centro de abrigo.
Não
se atrevia a pensar no passado, seria intolerável, vagueava como um pedaço de
madeira carcomida ao sabor das ondas. Alguém lhe levara também o cão, a única
companhia que lhe restava. Demorava a chegar a hora em que tudo acabaria.
Resistia, sem querer, sem ser capaz de dizer não. Durante toda a vida nunca
soubera dizer não e talvez por isso ali estava sentado no vão daquela escada à
espera.
Não queria viver, não sabia se queria
morrer.
A neve caía cobrindo tudo à sua volta, a
ele também, agora vestido de branco, macio e frio para sempre.
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