sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O meu baloiço



Tinha hesitado voltar aquele lugar e aquela casa.  Não era por natureza saudosista e voltar atrás no seu passado e nas suas memórias era-lhe sempre doloroso.
Sim existia o passado, não o negava, nem o repudiava. O presente rapidamente se transformava em passado e o futuro fora sempre algo em que tivera dificuldades em se projectar.
Mas nesse dia não conseguiu escapar. Tinha sido quase uma imposição.  Ele dissera-lhe peremptoriamente :
“Não há como fugir, desta vez vamos até lá.”
Para quê pensou, para quê lembrar tempos que não poderiam voltar, uma infância de liberdade e de descoberta.
“A casa está à venda”, continuou, “vais deixar que apaguem todas as tuas memórias?”
Tocara-lhe no ponto fraco, memórias, não queria que de repente o seu passado fosse conspurcado, espezinhado, como se ela nunca tivesse vivido ali.
“Salvar as memórias”, isso dera-lhe coragem. Lá estava a casa branca, as portadas de madeira fechadas, o jardim descuidado, cheio de ervas. Abriu a custo o portão e angustiada, olhou à sua volta, procurando  a menina de tranças e o cão peludo que nunca a largava.
O balouço ainda lá estava, as cordas velhas, a tábua gasta pela chuva e pelo sol.

O balouço, o seu balouço e foi então que viu a menina de tranças que se balançava bem alto achando que podia voar. 

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