Tinha
hesitado voltar aquele lugar e aquela casa.
Não era por natureza saudosista e voltar atrás no seu passado e nas suas
memórias era-lhe sempre doloroso.
Sim existia
o passado, não o negava, nem o repudiava. O presente
rapidamente se transformava em passado e o futuro fora sempre algo em que
tivera dificuldades em se projectar.
Mas nesse
dia não conseguiu escapar. Tinha sido quase uma imposição. Ele dissera-lhe peremptoriamente :
“Não há como
fugir, desta vez vamos até lá.”
Para quê
pensou, para quê lembrar tempos que não poderiam voltar, uma infância de
liberdade e de descoberta.
“A casa está
à venda”, continuou, “vais deixar que apaguem todas as tuas memórias?”
Tocara-lhe
no ponto fraco, memórias, não queria que de repente o seu passado fosse
conspurcado, espezinhado, como se ela nunca tivesse vivido ali.
“Salvar as
memórias”, isso dera-lhe coragem. Lá estava a casa branca, as portadas de
madeira fechadas, o jardim descuidado, cheio de ervas. Abriu a custo o portão e
angustiada, olhou à sua volta, procurando a menina de tranças e o cão peludo que nunca a
largava.
O balouço
ainda lá estava, as cordas velhas, a tábua gasta pela chuva e pelo sol.
O balouço, o
seu balouço e foi então que viu a menina de tranças que se balançava bem alto
achando que podia voar.
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