Maria abriu
o envelope com cuidado, calculava o que tinha lá dentro; na véspera deixara
reservado um magnífico caderno sem linhas, grande como ela gostava e aquela
caneta azul safira que já namorava há alguns meses.
Só podia ter
sido Carlos. Parecia adivinhar os seus
pensamentos e os seus desejos e adorava fazer-lhe pequenas surpresas. Não se
enganou, lá estava o caderno e a caneta. Sorriu, havia também um cartão:
“Não poderei estar contigo amanhã. Vais poder escrever à tua
vontade, sem as minhas habituais interrupções. Imagino-te compenetrada, alheia
a tudo à tua volta. Amo-te C”
Pousou o
caderno em cima da secretária, as folhas brancas imaculadas. A caneta era
linda, pegou nela carinhosamente. Um dia só para ela e as páginas vazias à sua espera.
Rabiscou umas palavras, riscou-as. Olhou pela janela, o dia estava frio,
transparente e aquele esplendoroso sol de Inverno. “Tenho todo o tempo”,
pensou. Tentou outra vez, sim ia recomeçar a escrever.
Carlos
acreditava no seu talento, quantas vezes lhe dizia: ”És uma fantástica
contadora de histórias e ainda por cima sabes escrever…”
Mais umas
palavras, a tentativa de um começo, “não, nada daquilo fazia sentido. Achou o
seu estilo piegas e comum. “Talvez se eu abordasse a história de outra maneira”,
“E se eu começasse pelo fim…, era uma hipótese.”“Deixa-me pensar como é que a
Margarida nos ensinou a construir uma história…ah, é verdade, o ponto de
viragem. Mas logo no principio? Não seria fácil, era melhor a meio talvez, não
sei…”
O papel é
branco, demasiado branco, como de repente fosse uma nuvem imensa,
gigantesca…onde Maria se perdeu.
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