terça-feira, 1 de outubro de 2013

A caneta azul




Maria abriu o envelope com cuidado, calculava o que tinha lá dentro; na véspera deixara reservado um magnífico caderno sem linhas, grande como ela gostava e aquela caneta azul safira que já namorava há alguns meses.
Só podia ter sido Carlos.  Parecia adivinhar os seus pensamentos e os seus desejos e adorava fazer-lhe pequenas surpresas. Não se enganou, lá estava o caderno e a caneta. Sorriu, havia também um cartão:
“Não poderei estar contigo amanhã. Vais poder escrever à tua vontade, sem as minhas habituais interrupções. Imagino-te compenetrada, alheia a tudo à tua volta. Amo-te C”
Pousou o caderno em cima da secretária, as folhas brancas imaculadas. A caneta era linda, pegou nela carinhosamente. Um dia só para ela e as páginas vazias à sua espera. Rabiscou umas palavras, riscou-as. Olhou pela janela, o dia estava frio, transparente e aquele esplendoroso sol de Inverno. “Tenho todo o tempo”, pensou. Tentou outra vez, sim ia recomeçar a escrever.
Carlos acreditava no seu talento, quantas vezes lhe dizia: ”És uma fantástica contadora de histórias e ainda por cima sabes escrever…”
Mais umas palavras, a tentativa de um começo, “não, nada daquilo fazia sentido. Achou o seu estilo piegas e comum. “Talvez se eu abordasse a história de outra maneira”, “E se eu começasse pelo fim…, era uma hipótese.”“Deixa-me pensar como é que a Margarida nos ensinou a construir uma história…ah, é verdade, o ponto de viragem. Mas logo no principio? Não seria fácil, era melhor a meio talvez, não sei…”

O papel é branco, demasiado branco, como de repente fosse uma nuvem imensa, gigantesca…onde Maria  se perdeu.

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